sexta-feira, 9 de março de 2012

Esta é da Perereca da vizinha.

Major da PM quer que Ministério Público investigue dispensas de licitação da Sespa para o programa Presença Viva. Dispensas atingem quase R$ 5 milhões e incluem até camisetas e bonés. A maior rendeu R$ 2 milhões a uma empresa paulista, 17 dias depois de ela se instalar em Belém.


O major aposentado da PM Walber Wolgrand protocola na próxima segunda-feira “notícia de ilegalidade” na Procuradoria Geral de Justiça do Pará.

Wolgrand quer que o Ministério Público apure possíveis irregularidades nos quase R$ 5 milhões em dispensas licitatórias realizadas pela Secretaria Estadual de Saúde (Sespa), para aquisições destinadas ao programa Presença Viva, neste ano eleitoral.

A denúncia do major tem por base a reportagem publicada ontem pela Perereca da Vizinha

As dispensas de licitação já realizadas neste ano, para o Presença Viva, abrangem até mesmo a confecção de camisetas e bonés. 

A maior delas, em valor superior a R$ 2 milhões, beneficiou uma empresa paulista, a RPR Serviços Médicos, apenas 17 dias depois de ela abrir uma filial em Belém.

Todas as dispensas tiveram por base o inciso IV, do artigo 24 da Lei 8666/93, a Lei das Licitações, que prevê a possibilidade de compra direta (ou seja, sem licitação) pelo Poder Público, em caso de emergência ou calamidade pública (leia a matéria aqui: http://pererecadavizinha.blogspot.com/2012/03/sespa-compra-quase-r-5-milhoes-sem.html ).

O major, que é também Bacharel em Direito, acredita que há irregularidade em tais dispensas.

“O Presença Viva é um projeto previsível, com ações previsíveis, não se enquadra nesse caso”, afirma.

Além disso, diz Wolgrand, os materiais adquiridos por compra direta para o programa não são de fabricação exclusiva, o que justificaria a dispensa ou a inexigibilidade licitatória.

“No caso de bonés, camisetas e materiais de consumo o que mais tem é fornecedor. Eles (a Sespa) não podiam ter feito isso. Com certeza, é irregular”, comenta.

Até porque, conforme acentuou, a licitação, que tem de ser a regra, e não a exceção, para as compras do Poder Público, objetiva garantir igualdade de condições a quem pretende fornecer bens ou serviços ao Estado, e um melhor resultado, em termos de preços, para a Administração Pública, devido à disputa entre os licitantes.

O major diz, no entanto, que não tem muita esperança na investigação que deverá ser realizada pelo Ministério Público, porque a instituição, segundo ele, tem sido “conivente” com o Governo Estadual.

“Pedi providências em relação a vários concursos irregulares da Polícia Militar e até agora nada. Tenho denúncias contra irregularidades na PM que estão no Ministério Público desde 2005 e que eles não me davam nem resposta: só começaram a responder depois que denunciei o fato, em 2010, ao Conselho Nacional do Ministério Público”, afiança.

E embora nada faça em relação a tais denúncias, diz o major, o MP vem aceitando, seguidamente, pedidos da PM para que determine a  abertura de inquéritos policiais militares (IPMs) contra ele, Wolgrand.

O último é um IPM, cuja determinação de abertura foi pedida ao MP pelo ex-subcomandante da PM, coronel Carlos Nascimento: ele pediu a abertura de investigação contra Wolgrand, ao Ministério Público, porque o major teria chamado o MP de “pífio, chinfrim e vagabundo” num vídeo postado no blog que mantém.

Wolgrand sustenta que o pedido do coronel Carlos Nascimento teria sido uma retaliação pelo fato de ter denunciado suposta inserção irregular de um filho e de um sobrinho do ex-subcomandante no programa de voluntariado civil da PM.

“O programa funciona como uma espécie de ‘primeiro emprego’, para jovens carentes, em situação de risco. Só que na PM, principalmente os oficiais, colocam é parentes no voluntariado, em vez de atender a sociedade”, reclama. 
    
O major também diz que a PM poderia abrir diretamente essas investigações contra ele, mas prefere “se proteger atrás do MP”, fazendo com que parta de lá a determinação para a abertura de inquérito pela Corregedoria.

“Eles (a PM) agem assim porque é questionável que um inativo, um militar da reserva, responda a um IPM, até porque o possível crime de que me acusam não é de natureza militar. Eles não instauram diretamente, até porque alguns desses processos ferem direitos constitucionais, como a liberdade de expressão, sem contar o fato de que estou na reserva”, observa.

E completa: “Se quisessem me processar, deveria ser na Justiça Comum. Mas preferem fazer isso na PM porque podem manipular o processo e a coisa toda fica em família”.

O major diz que já perdeu a conta dos IPMs a que respondeu – “só no ano passado foram três ou quatro, sempre determinados pelo MP”. 

No entanto, assinala, “o que não falta é irregularidade não apurada na PM, como coronéis ímprobos, além de irregularidades fora da PM, como é o caso dessas dispensas de licitação para o Presença Viva”.

Daí ter decidido que, doravante, vai denunciar ao MP toda e qualquer suposta irregularidade de que tomar conhecimento. 

A Perereca vai tentar ouvir a Assessoria de Comunicação do MP e a Sespa.

Confira abaixo o pedido de investigação do major Wolgrand sobre as dispensas de licitação para o Presença Viva:  

 “EXCELENTÍSSIMO SENHOR PROCURADOR GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ.

Objeto: Notícia de ilegalidade.

WALBER WOLGRAND MENEZES MARQUES, brasileiro, Major PM e Professor do IFPA, Bacharel e Licenciado Pleno em Filosofia (UFPA), Bacharel em Direito (UNAMA), Especialista em Saúde mental e Justiça (USP e UFPA) e Especialista em Gestão Estratégica em Defesa Social (UFPA), RG: 12.380/PM/PA, domiciliado e residente na Trav. Mauriti, 1373, Bairro Pedreira, CEP: 66000-000, e-mail: w_wolgrand@hotmail.com, telefones: 88091018 e 82097707, vem, perante V. Exª. requerer as providências legais, da alçada do MPE, sobres os fatos narrados no artigo denominado “SESPA COMPRA QUASE R$ 5 MILHÕES SEM LICITAÇÃO PARA PRESENÇA VIVA, NO ANO ELEITORAL DE 2012. DISPENSAS INCLUEM ATÉ BONÉS E CAMISETAS. A MAIOR DISPENSA DE LICITAÇÃO, EM VALOR SUPERIOR A R$ 2 MILHÕES, BENEFICIOU EMPRESA PAULISTA, QUE GANHOU CONTRATO MILIONÁRIO 17 DIAS DEPOIS DE ABRIR FILIAL EM BELÉM” (cópia anexa), publicado no Blog “A perereca da vizinha” (http://pererecadavizinha.blogspot.com), da jornalista Ana Célia Pinheiro.

Neste Termos
Pede deferimento
Belém, 09 de março de 2012
WALBER WOLGRAND MENEZES MARQUES”

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