Bernardo Mello Franco – Folha de São Paulo
A
notícia foi divulgada pelo Tribunal Superior Eleitoral: uma beneficiária
do Bolsa Família doou R$ 75 milhões a uma campanha política. Com ar de
escândalo, a corte listou o caso entre os “indícios de irregularidades
mais relevantes” do primeiro turno.
Ao avisar a imprensa, o TSE informou que
“compartilhou imediatamente o material com o Ministério Público
Eleitoral”. A corte também acionou o Ministério do Desenvolvimento
Social e Agrário para a abertura de uma investigação.
Rapidamente, vazou-se o nome da
suspeita: Maria Geni do Nascimento. Ela se candidatou a vereadora pelo
PDT em Santa Cruz da Baixa Verde, no sertão de Pernambuco. É lavradora,
tem 56 anos e não completou o ensino médio.
Segundo o banco de dados da Justiça
Eleitoral, Geni teria recebido, e não doado, os R$ 75 milhões. Mesmo
assim, seu caso parecia perfeito para confirmar duas teses em voga: o
cadastro do Bolsa Família é uma bagunça e o veto às doações de empresas
levaria o caos às eleições.
O presidente do TSE, Gilmar Mendes,
declarou em setembro que doações de beneficiários de programas sociais
indicavam fraudes e crimes eleitorais. “Ou essa pessoa não deveria estar
recebendo o Bolsa Família ou ocorre o fenômeno que chamamos de
‘caça-CPF’, que é a ideia de se manipular o CPF de alguém que está
inocente”, disse o ministro.
Nesta terça (18), descobriu-se que Geni
não era fraudadora nem laranja. Ela apenas errou ao preencher o sistema
eletrônico e informar sua única ajuda de campanha: R$ 75, doados por um
estudante que recebe auxílio-alimentação da universidade pública. “Ela
digitou zeros demais”, explicou Raquel Salazar, da corregedoria do TRE
de Pernambuco, ao “Jornal do Commercio”.
A
assessoria do TSE me disse que cabe à candidata, e não ao tribunal,
providenciar uma correção. Até aqui, nenhuma autoridade se desculpou com
Geni. Ela levou pedradas de todos os lados, mas não se elegeu. Teve
apenas 13 votos.