Para
algumas mulheres que se deslocam cotidianamente em pequenas embarcações
no Pará, o final de uma curta viagem pode ser uma tragédia. Sem
proteção no eixo dos motores, muitas são vítimas dos acidentes de
escalpelamento. A tragédia, além de deixar marcas físicas irreparáveis,
mexe profundamente com a autoestima e a confiança.
Para
tentar amenizar este sofrimento, a organização não governamental (ONG)
Ribeirinhos Vítimas de Acidente de Motor (Orvam) realizou durante todo o
domingo a campanha “Minha vida por um fio: transforme um fio de cabelo
em uma esperança de vida”, onde foram arrecadados fios de cabelos de
voluntários para confecção de perucas que posteriormente serão doadas às
mulheres atendidas pela instituição.
Para
a presidente da ONG, a assistente social Maria Cristina Santos, este
trabalho estimula a vítima de acidentes de escalpelamento a trabalhar a
autoestima, lutar contra o preconceito e a promover sua inserção no
mercado de trabalho. Este Natal vai ser diferente para a lavradora Maria
Evanei da Costa, 40 anos. Ela recebeu da ONG a primeira peruca
pós-acidente. Em 2002, quando viajava a bordo de um barco sem proteção
no motor pelo rio Juruaçu, que banha o município de São Sebastião da Boa
Vista, Maria tropeçou e caiu. “Lembro da dor e desespero que senti
quando meu cabelo foi enroscado pela hélice”. De lá para cá, passou por
diversas cirurgias. “Acho que a peruca vai diminuir meu sofrimento, já
que as pessoas não vão mais me olhar de cara feia.”
A
peruca que Maria Evanei vai usar foi confeccionada pelas próprias
meninas do instituto. Entre elas, a jovem Balbina Figueiredo. Discreta,
aos 24 anos ela pouco fala sobre o acidente ocorrido quando tinha apenas
11 anos. “É muito dolorido, prefiro olhar pra frente, o futuro nos
reserva coisas muito boas depois de tanta agonia”
As
marcas, depois de oito cirurgias reparadoras, são quase imperceptíveis.
“Hoje uso apenas o aplique. Com as operações pude recuperar parte dos
fios de cabelo. Mas tenho acompanhado de perto a luta das que não
poderão ter seus cabelos de volta”, disse.
Balbina
se profissionalizou em confecção de perucas em São Paulo, graças ao
instituto. Hoje, além de ajudar outras vítimas, ganhou uma profissão.
Aos 24 anos, ela não gosta de falar sobre o fatídico dia, quando ainda
tinha apenas 11 anos de idade e se deslocava para o município de Anajás
em uma embarcação precária. , justifica.
ASSISTÊNCIA
A
Orvam atende 60 mulheres da capital e do interior, em parceria com o
Espaço Acolher, extensão da Santa Casa de Misericórdia do Pará, que
realiza o tratamento médico às escalpeladas.
A
ONG precisa da ajuda de voluntários para conseguir a quantidade de
cabelos necessária para confecção das perucas. “Quem quiser colaborar é
só ir até o seu cabeleireiro de confiança, cortar uma quantidade
considerável do cabelo e comparecer à sede da Orvan”, destaca a
presidente do instituto.
A Orvan está localizada na Avenida João Paulo II, no bairro de Souza, 144.
Fonte: Diário do Pará
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