"Mesmo não acreditando que
Dilma ainda tenha
pendor para a esquerda, darei a ela meu voto no dia 26. É minha maneira
de apoiar uma política externa soberana e, principalmente, expressar a
solidariedade aos avôs e avós que vivem de aposentadoria e têm direito à
dignidade dos anciãos", escreve
Pedro A. Ribeiro de Oliveira,
doutor em Sociologia pela Université Catholique de Louvain, na Bélgica.
É professor no mestrado em Ciências da Religião da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais – PUC/Minas.
Eis o artigo.
O 1º turno é o momento político por excelência, porque nele se
explicitam as propostas dos candidatos e candidatas, independentemente
de sua probabilidade de vitória. A candidatura de
Dilma foi apoiada por muitos companheiros e companheiras de fé e luta política, como
Leonardo Boff,
Frei Betto e
Luiz Alberto G. Souza,
mas não por mim. Não me entusiasma a inclusão dos pobres no mercado de
consumo sem taxação das grandes fortunas de ruralistas, empresário/as,
banqueiro/as e rentistas. O crescimento do PIB por meio da exploração
desregulada dos recursos naturais é uma política insana: quando o último
barril de petróleo for extraído do pré-sal, a Amazônia se tornar
terreno do agronegócio, os rios secarem e não for mais rentável extrair
minérios, será a catástrofe econômica e os pobres serão os primeiros a
morrer. Por isso, minha opção no 1º turno foi por
Luciana Genro, do PSOL.
No 2º turno a liberdade de escolha fica reduzida: é
Dilma, é
Aécio ou é nulo.
Não voto em
Aécio porque ele deixou claro no 1º turno que sua candidatura tem por modelo o
governo FHC, que só não foi pior para o povo do que os governos militares.
Descarto a opção pelo voto nulo, porque ele só se justifica como
expressão de protesto quando o processo eleitoral é estruturalmente
viciado, como ocorreu durante a ditadura militar. Hoje, apesar de
defeitos que só serão corrigidos pela Reforma Política, as eleições
deixam transparecer a vontade do eleitorado. E cada voto conta.
Escolho votar em
Dilma por acreditar que será mais do mesmo. Não creio que ela fará a
Reforma Agrária,
nem se esforçará em demarcar e proteger os territórios e povos
indígenas, nem terá mais cuidado com a ecologia do que teve até aqui...
Creio, porém, que ela manterá as duas principais mudanças introduzidas
pelo
governo Lula: a política externa soberana e o aumento real do salário-mínimo. Vejamos brevemente cada uma delas.
1. Diferentemente do
governo FHC, cuja
política externa foi marcada pela subserviência aos EUA,
Lula fez uma guinada em direção ao Sul geopolítico: rejeitou a
ALCA, não cedeu a base de
Alcântara,
apoiou regimes ou governos perseguidos por Washington – como Cuba,
Venezuela, Bolívia e Honduras – e incentivou a integração política da
América do Sul.
Dilma manteve essa linha política e nada indica que vá mudá-la no segundo mandato.
2. FHC dizia ser inviável dar
aumento real ao salário-mínimo enquanto este fosse o piso da
Previdência Social.
Aumento acima da inflação – afirmava ele, do alto de sua arrogância
professoral – só seria possível depois de sua desvinculação
constitucional ao piso das aposentadorias e pensões.
Lula,
porém, estabeleceu uma política de aumento real do salário-mínimo, e
nem por isso o INSS quebrou. (Mesmo porque o déficit contábil da
Previdência Social é causado pela
DRU, que desvia 20%
dos recursos orçamentários da Seguridade Social para o pagamento de
juros de dívidas). Por isso, hoje avô e avó tem outro status social: em
vez de peso econômico para a família, são um esteio para seus filhos e
filhas em dificuldade. Isso é fruto da teimosia de
Lula e
Dilma!
Por isso, mesmo não acreditando que
Dilma ainda
tenha pendor para a esquerda, darei a ela meu voto no dia 26. É minha
maneira de apoiar uma política externa soberana e, principalmente,
expressar a solidariedade aos avôs e avós que vivem de aposentadoria e
têm direito à dignidade dos anciãos.